ATA DA CENTÉSIMA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 14.11.1997.

 


Aos quatorze dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às nove horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adeli Sell, Antônio Losada, Carlos Garcia, Cláudio Sebenelo, Clovis Ilgenfritz, Clênia Maranhão, Guilherme Barbosa, Hélio Corbellini, Isaac Ainhorn, João Carlos Nedel, João Dib, José Valdir, Juarez Pinheiro, Paulo Brum, Pedro Américo Leal e Tereza Franco. Ainda, durante a Sessão, compareceram os Vereadores Anamaria Negroni, Cyro Martini, Décio Schauren, Eliseu Sabino, Elói Guimarães, Fernando Záchia, Gerson Almeida, João Motta Lauro Hagemann, Maria do Rosário, Nereu D'Ávila, Pedro Ruas, Reginaldo Pujol, Renato Guimarães e Sônia Santos. Constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou a distribuição em avulsos de cópias da Ata da Centésima Primeira Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pela Mesa Diretora, o Projeto de Resolução nº 35/97 (Processo nº 3445/97); pelo Vereador Adeli Sell, o Substitutivo nº 01 ao Projeto de Lei do Legislativo nº 193/97 (Processo nº 3302/97); pelo Vereador Alberto Moesch, 03 Pedidos de Providências; pelo Vereador Cláudio Sebenelo, 03 Pedidos de Providências; pelo Vereador João Dib, a Indicação nº 125/97 (Processo nº 3434/97). Do EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 501/97, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; 02/97, do Senhor Paulo Renato Pereira Lima, Presidente do Sindicato dos Funcionários das Escolas Públicas do Estado/RS - SINFERS; 32/97, do Vereador Mário Sérgio Battistello, Presidente da Câmara Municipal de Esteio/RS; 131/97, da Senhora Vera Lúcia Piccinini, Presidenta da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais; 269/97, da Senhora Nelcinda Aguirre da Silva, Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; s/nº, do Senhor Carlos André Klein, Presidente da Associação de Jovens Empresários; s/nº do Senhor Marco Maia, Secretário de Política Sindical da Confederação Nacional dos Metalúrgicos - CNM/CUT; s/nº, da Senhora Elaine de Souza Almeida, Presidenta da Associação Gaúcha de Assistência a Mucoviscidose; s/nº, do Senhor José Elias Flores, Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; s/nº, da Senhora Wrana Maria Panizzi, Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Convites: dos Irmãos Maristas e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, para o lançamento do selo comemorativo do Centenário da Presença Marista no Brasil - 1987-1997; do Cultural Gallery of Arts, para a abertura da exposição de Cris Rocha: "Metal"; da Universidade Federal do Rio  Grande do  Sul - UFRGS e sua Associação de Docentes - ADUFRGS, para o Seminário "Terceiro Setor e Redes <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>de Solidariedade"; do Instituto Cultural Judaico Marc Chagall, do Curso de Pós-Graduação em Letras da PUCRS e da Câmara Rio-Grandense do Livro, para o Seminário Internacional "20 Anos sem Clarice"; do Deputado João Luiz Vargas, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e do Deputado Quintiliano Vieira, Presidente da Comissão Especial de Barragens e Recursos Hídricos, para a solenidade de abertura do Seminário: "El Niño: Prognóstico dos Efeitos no RS e Ações Preventivas"; da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da Empresa Portoalegrense de Turismo S.A. - EPATUR, para a 6ª Festa das Nações; da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e da Secretaria Municipal da Cultura, para o lançamento do livro "Memórias dos Bairros"; da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer, para o ato de abertura da Semana pela Paz e o descerramento da placa comemorativa à corrida pela Paz. Após, o Senhor Presidente registrou o comparecimento, nos termos do Requerimento nº 250/97 (Processo nº 3129/97), de autoria do Vereador Cláudio Sebenelo, da Senhora Maria Josefina Becker, Presidente da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor - FEBEM, concedendo a palavra à Sua Senhoria, que discorreu acerca das atividades realizadas e dos problemas atualmente enfrentados pela FEBEM no referente ao atendimento dos menores internos dessa Fundação. Ainda, nos termos do § 1º do artigo 138 do Regimento, os Vereadores Cláudio Sebenelo, Renato Guimarães, Pedro Américo Leal, Maria do Rosário, Antônio Losada e Clênia Maranhão manifestaram-se e formularam questionamentos à Senhora Maria Josefina Becker, acerca da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. Também, o Senhor Presidente registrou a presença do ex-Vereador Edi Morelli. A seguir, constatada a existência de "quorum", foi aprovado Requerimento do Vereador Antonio Hohlfeldt, solicitando Licença para Tratar de Interesses Particulares, no dia de hoje, tendo o Senhor Presidente declarado empossado na vereança o Suplente Gilberto Batista, informando que Sua Excelência integrará a Comissão de Educação, Cultura e Esportes. Às dez horas e cinqüenta e um minutos, os trabalhos foram suspensos, nos termos regimentais, sendo reabertos às dez horas e cinqüenta e cinco minutos, constatada a existência de "quorum". Em prosseguimento, o Senhor Presidente registrou o recebimento de exemplar do livro "Adolescentes privados de liberdade - A normativa nacional e internacional & Reflexões acerca da responsabilidade penal", organizado pelo Senhor Mário Volpi. Após, foi apregoado Requerimento do Vereador Nereu D'Ávila, solicitando, nos termos do § 6º do artigo 218 do Regimento, Licença Paternidade para o Vereador Pedro Ruas, no período de treze a dezessete de novembro do corrente, e registrou o impedimento dos Suplentes  João Bosco Vaz e Milton Zuanazzi de assumirem a vereança na Casa durante este período. Em prosseguimento, o Senhor Presidente declarou empossado na vereança o Suplente Mário Fraga, informando que Sua Excelência integrará a Comissão de Economia, Finanças e Orçamento. Ainda, o Senhor Presidente registrou a presença de professores e alunos da 3ª série do Colégio Sevigné; convidou os presentes para as atividades relativas à 6ª Semana da Consciência Negra de Porto Alegre, de <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>quatorze de novembro a onze de dezembro do corrente; e, respondendo a Questão de Ordem do Vereador Pedro Américo Leal, prestou informações acerca da transferência para o Plenário Otávio Rocha dos trabalhos referentes às Sessões Ordinárias deste Legislativo. Também, o Vereador Guilherme Barbosa registrou sua satisfação por este Legislativo já estar utilizando papel não-clorado em sua documentação, conforme projeto anteriormente aprovado. Em prosseguimento, constatada a existência de "quorum", foi aprovado Requerimento do Vereador Nereu D'Ávila, solicitando alteração na ordem dos trabalhos, por treze votos SIM, dez votos NÃO e uma ABSTENÇÃO, tendo sido submetido à votação nominal por solicitação do Vereador Guilherme Barbosa, votando Sim os Vereadores Cláudio Sebenelo, Eliseu Sabino, Elói Guimarães, Fernando Záchia, Hélio Corbellini, João Carlos Nedel, João Dib, Nereu D'Ávila, Paulo Brum, Pedro Américo Leal, Sônia Santos, Tereza Franco e Gilberto Batista, votando Não os Vereadores Adeli Sell, Antônio Losada, Carlos Garcia, Cyro Martini, Décio Schauren, Guilherme Barbosa, João Motta, Lauro Hagemann, Maria do Rosário e Renato Guimarães e optando pela Abstenção o Vereador Gerson Almeida. Após, o Senhor Presidente solicitou ao 1º Secretário que procedesse à leitura da "Carta Metropolitana", resultante do IV Encontro das Mesas Diretoras das Câmaras Municipais da Região Metropolitana de Porto Alegre, realizado no dia 13 de novembro do corrente. A seguir, constatada a existência de "quorum", foi iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação esteve o Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 07/97 que, a Requerimento, aprovado, do Vereador Gerson Almeida, teve adiada sua discussão por uma Sessão. Este Requerimento do Vereador Gerson Almeida foi aprovado por vinte votos SIM, três votos NÃO e duas ABSTENÇÕES, após ser encaminhado à votação pelos Vereadores Nereu D'Ávila, Reginaldo Pujol, Hélio Corbellini e Gerson Almeida, tendo sido submetido à votação nominal por solicitação do Vereador Clovis Ilgenfritz, votando Sim os Vereadores Adeli Sell, Anamaria Negroni, Antônio Losada, Carlos Garcia, Cláudio Sebenelo, Clênia Maranhão, Cyro Martini, Décio Schauren, Eliseu Sabino, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa, Hélio Corbellini, João Motta, Lauro Hagemann, Maria do Rosário, Pedro Américo Leal, Reginaldo Pujol, Renato Guimarães, Tereza Franco e Gilberto Batista, votando Não os Vereadores João Carlos Nedel, João Dib e Nereu D'Ávila e optando pela Abstenção os Vereadores Fernando Záchia e Pedro Américo Leal. Em Discussão Geral e Votação,  foi aprovado o Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 08/97, após ser discutido pelos Vereadores Reginaldo Pujol, Adeli Sell e Fernando Záchia, por dezessete votos SIM e onze votos NÃO, tendo sido submetido à votação nominal por solicitação do Vereador Fernando Záchia, votando Sim os Vereadores Anamaria  Negroni, Carlos Garcia, Cláudio Sebenelo, Clênia Maranhão, Eliseu Sabino, Fernando Záchia, Hélio Corbellini, Isaac Ainhorn, João Carlos Nedel, João Dib, Nereu D'Ávila, Paulo Brum, Pedro Américo Leal, Reginaldo Pujol, Tereza Franco, Gilberto Batista e Mário Fraga e Não os Vereadores Adeli Sell, Antônio Losada, Clovis Ilgenfritz, Cyro Martini, Décio Schauren, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa, <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>João Motta,  Lauro Hagemann, Maria do Rosário e Renato Guimarães. Após, foi aprovada a Emenda nº 01 aposta a este Projeto. Durante a apreciação do Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 08/97, o Vereador Mário Fraga cedeu seu tempo de discussão ao Vereador Fernando Záchia. Em Votação esteve o Projeto de Lei do Legislativo nº 90/96, que, a Requerimento, aprovado, do Vereador Cláudio Sebenelo, teve adiada sua votação por uma Sessão. Na oportunidade, o Vereador Antônio Losada registrou despejo ocorrido ontem, de cento e quarenta famílias na Vila Nazaré. Em Discussão Geral e Votação foi aprovado o Projeto de Lei do Executivo nº 37/97, após ser discutido pelo Vereador Reginaldo Pujol. Às doze horas e vinte e cinco minutos, constatada a inexistência de "quorum", o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores  Clovis Ilgenfritz, Isaac Ainhorn e Paulo Brum e secretariados pelos Vereadores Paulo Brum e Guilherme Barbosa e Adeli Sell, este como Secretário "ad hoc". Do que eu, Paulo Brum, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Convidamos à Sra. Maria Josefina Becker, Presidente da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, FEBEM, para fazer parte da Mesa. O que gerou o convite para este comparecimento é a situação atual da instituição e o Requerimento nº 250/97, de autoria do Ver. Cláudio Sebenelo, que resultou no Processo 3129/97.

Registramos também as presenças do Sr. João Jorge, Chefe de Gabinete da Presidência da FEBEM, e da Sra. Júlia Ávila Figueiredo, que é representante da Federação das Mulheres Gaúchas.

A Sra. Maria Josefina Becker está com a palavra.

 

A SRA. MARIA JOSEFINA BECKER: Excelentíssimo Sr. Ver. Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara de Vereadores, Srs. Vereadores e demais presentes, em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer à esta Câmara - na pessoa do seu Presidente e do Requerente, Ver. Cláudio Sebenelo - o convite para este depoimento.

Eu gostaria de fazer uma breve exposição a respeito da questão que está afeta à FEBEM - Fundação Estadual do Bem  Estar do Menor.

Nós trabalhamos nessa Fundação com uma  questão que se vincula, em termos nacionais, a com uma política de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente que tem como coordenador o Ministério da Justiça, através  do Departamento da Criança e do Adolescente, e, como formulador de políticas e controlador das ações e programas,  o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA que, em nível estadual, corresponde, do ponto de vista da execução e da coordenação dessa política, à FEBEM  e a formulação e ao controle desta política ao CEDICA - Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Toda esta maneira de organizar esse trabalho  tem como fundamento o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90, que é a regulamentação dos artigos nºs 227 e 228 da Constituição Federal. Tudo isso, em termos internacionais, com  matriz na Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança, à qual o Brasil aderiu e incorporou, por força do artigo nº 5º da Constituição Federal, no parágrafo 2º, a ordem interna, onde fazem parte todos os tratados, acordos e ajustes dos quais o Brasil é parte.

Portanto, esse trabalho é um trabalho em que a fundamentação que vai além de um Regimento Interno de uma fundação ou de um regulamento de um órgão da administração do Estado. Estamos, ainda, dentro de uma fundação que foi criada em 1970 e que está sofrendo um processo de reordenamento com vistas a adequá-la a essa nova normativa, toda ela, evidentemente, pela Constituição de 1988, pela a Convenção da ONU de 1989  e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990. Então estamos num processo de reordenamento.

Os fundamentos principais da ação são, com matriz na Constituição Federal,  a participação da sociedade na formulação e na coordenação desta política e, ao mesmo tempo, um processo de descentralização e municipalização das ações. A FEBEM, com base em tudo isso, formulou seu plano de ação, separando dois aspectos de sua ação: a sua ação de execução direta, que é excepcional e que se destina  apenas a uma parte dos destinatários, e a sua ação de coordenação e de cooperação técnico-financeira, que se destina àquelas ações que, progressivamente, devem ser municipalizadas.

Cabe, dentro desse plano, e também por força de lei estadual, a execução das medidas destinadas a adolescentes, autores de atos infracionais, que, por determinação judicial, devem ser internados com privação de liberdade ou com restrição à liberdade.

Estamos também assumindo, como execução direta do Estado, os programas de atenção em abrigo a crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais, que são aqueles que, além da situação de abandono, são ou deficientes mentais, deficientes múltiplos. Temos ainda um programa especializado de atendimento a crianças que são portadoras do HIV, por transmissão vertical. São crianças que nascem portadoras do vírus HIV e que, por uma situação de orfandade ou abandono ou negligência, precisam  ter os seus cuidados parentais substituídos por cuidados institucionais.

Estes são os programas de execução direta da FEBEM que continuarão com a responsabilidade do Estado. Os primeiros, aqueles adolescentes que cumprem medida por determinação judicial é, inclusive, por força de lei estadual e por serem considerados programas que, necessariamente, são de âmbito do Estado. Uma vez que não caberia a municipalização, nós temos hoje no Rio Grande do Sul quinhentos e vinte e um jovens privados de liberdade, o Estado tem quatrocentos e sessenta e sete municípios, até pelo número se vê que não seria um programa a ser municipalizado, além do mais é um programa que, como logo se verá, extremamente complexo e bastante oneroso.

Em relação aos portadores de necessidades especiais nós consideramos também o caráter difuso da demanda, a alta especialização exigida para a execução desses programas e também o seu alto custo. Estamos num processo de municipalização dos programas de abrigo para crianças em situação de risco pessoal e social, em negligência e abandono, que são as retaguardas dos Conselhos Tutelares. Já encetamos, com êxito, a municipalização desses programas nos Municípios de Caxias do Sul, Santa Maria e São Francisco de Paula. Esses programas a FEBEM executava diretamente. Estamos no processo final da municipalização em Palmeira das Missões, e em negociação com diversos outros municípios onde, até agora, nós temos a execução direta desse abrigamento. No Município de Porto Alegre, nós estamos em negociação com a FESC, para que, progressivamente, essa fundação possa assumir o seu papel na execução direta dos programas de abrigo.

Além disso, nós participamos, como membros do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, de programas na área de coordenação, de capacitação de Conselhos Tutelares, de capacitação de Conselhos Municipais. Participamos, ainda,  do "Piá 2000", um programa de articulação de diversos órgãos do Estado, no sentido de - é o que nos compete - criar alternativas e colaborar com os municípios,  com as redes municipais de atendimento. Por meio de técnicos nossos nós temos prestado assessoria técnica aos 15 municípios do Estado que participam do programa  na área de crianças e adolescentes em situação de rua e de  risco.

 A opinião pública, em geral, quando ouve falar em FEBEM, pensa no ICM, que é o instituto que atende  adolescentes infratores. Como eu sei que a questão dos adolescentes infratores é, talvez, a que mais desperta interesse e a necessidade de esclarecimentos, eu quero fazer, sobre ela, uma exposição mais aprofundada.

Antes de falar nessa questão, quero fazer um relato sobre o número de crianças e adolescentes atendidos, hoje, pela FEBEM. De acordo com o último levantamento - da semana passada  -  temos: no programa de infratores, 531, em todo o Estado, havendo quatro institutos em Porto Alegre, um em Caxias do Sul e um em Santa Maria; no atendimento aos portadores de necessidades especiais, temos 252 crianças e adolescentes, sendo 31 crianças pequenas portadoras do Vírus HIV e os demais, portadores de deficiências múltiplas, paralisados cerebrais e deficientes mentais. Em abrigos, nós temos o restante da população , sendo 320 em abrigos residenciais  e 445  em abrigos institucionais, num total de 1595 crianças e adolescentes atendidas, hoje, diretamente pela Fundação.

Em relação ao programa de adolescentes infratores,  é interessante dizer que na última semana estive participando do Fórum Nacional dos Dirigentes de Órgãos, FEBEMs e assemelhados, que existem em todo o Brasil. Estivemos em Natal, durante três dias, discutindo, especificamente, a questão do adolescente infrator e do atendimento a essa população. Nós pudemos perceber que existem problemas sérios, nessa área, em todo o Brasil, começando por São Paulo, que é o Estado onde os problemas são mais graves, inclusive, o Ver. Cláudio Sebenelo me dizia que na noite passada  houve mais um episódio de rebelião dos adolescentes infratores da FEBEM de São Paulo. Os Estados em que temos os problemas mais sérios, vinculados a adolescentes infratores, tanto pela quantidade, como pela gravidade dos delitos cometidos, são: São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, e Ceará. Como se percebe, são os Estados onde existe maior desenvolvimento urbano e maiores concentrações urbanas. É um fenômeno cuja gravidade tende a aumentar nas maiores concentrações urbanas.

Num levantamento que se fez em termos dos principais problemas que estão acontecendo neste ano, se destacam o Distrito Federal, onde houve rebeliões muito importantes, inclusive tendo algumas mortes a lamentar nesses episódios. Em Pernambuco, onde temos problemas muito sérios - e digo nós, porque entre os dirigentes dessas políticas existe muita solidariedade e um trabalho bastante coordenado - embora o número absoluto de Pernambuco seja mais ou menos de 200, bem menos do que aqui, a casa que havia foi destruída após vários motins, e os jovens tiveram que ser internados em um presídio desativado,  uma colaboração com a Polícia Militar, Praticamente todas as pessoas que trabalham na casa são membros ou reformados ou ainda da ativa da Polícia Militar de Pernambuco. Em Goiás os jovens estão alojados num quartel porque não há uma casa destinada ao atendimento de infratores. No Distrito Federal, como eu disse, existe uma casa que está superlotada, que eu conheço, cuja arquitetura não é melhor do que a arquitetura das nossas casas, que é terrível.

 Eu desejei dar uma idéia geral porque não podemos, em termos do Brasil, considerar o Rio Grande do Sul como uma ilha, que tem problemas que só existem aqui e que só nós temos dificuldades de enfrentar. É um problema bastante sério a questão  da mudança de paradigma e a questão de organização do atendimento aos adolescentes infratores que contemple dois aspectos que são indissociáveis que é o aspecto da proposta pedagógica que tem como objetivo a recuperação e a reinserção social desses jovens, através de uma proposta de atendimento, dentro de um contexto que contemple a segurança, a hierarquia e a disciplina. Se dissociarmos esses dois aspectos e considerarmos  só um deles, vamos necessariamente fracassar.

Se considerarmos apenas os aspectos pedagógicos e de atendimento sem levarmos em conta que esses jovens estão privados de liberdade justamente porque foi avaliado que eles não têm condições de conviver socialmente de uma maneira positiva e que por motivos circunstanciais, ou mais profundos em outros casos, estão oferecendo riscos para si mesmos e para a sociedade, seremos ingênuos, inoperantes e não teremos nenhuma eficácia na nossa ação. Por outro lado, se os considerarmos apenas como infratores, destituídos das suas características de adolescência, de juventude e de pessoas em desenvolvimento e pensarmos apenas em segurá-los, prendê-los, estaremos retardando ações delituosas que logo serão reencetadas quando reconquistarem a liberdade. Então, essas duas questões precisam necessariamente estar compatibilizadas .

Com essa noção e clareza, fizemos um projeto que está em fase final de preparação, que é o projeto que visa, em primeiro lugar à descentralização do atendimento porque temos uma alta concentração desses jovens de todo Estado em Porto Alegre, longe de suas famílias, numa situação cultural diferente. Certamente, os jovens da região da fronteira, embora cometam crimes graves na linha, por exemplo, do homicídio, culturalmente eles são totalmente diferentes dos nossos jovens de Porto Alegre, que participam de gangues, que assaltam com mão armada, que chegam a praticar latrocínios. São perfis culturais diferentes.

Há regiões, como a do Planalto e Caxias, em que a questão da droga é gravíssima; e em Porto Alegre, evidentemente, também o é. Há outras regiões em que essa questão não é tão séria e, no entanto, há outros perfis de delitos. A situação da distância da família é um agravante na medida em que a visita da família e a ação técnica com essas famílias possam favorecer o retorno, e essa distância dificulta. O nosso projeto é de descentralização. No início de março teremos  quatro casas novas funcionando em Caxias, Santa Maria, Santo Ângelo, e uma nova em Porto Alegre. Uma outra questão que faz parte desse projeto, é que são casas destinadas a não mais de 40 adolescentes, com um projeto que contempla, ao mesmo tempo, um espaço adequado de convivência, com alojamentos individuais, com amplos espaços para oficinas, esporte, lazer, escola, situados nessas regiões e com uma segurança externa, arquitetônica, que foi pensada no sentido de que eles possam ter um espaço para ir e vir, e todos os demais direitos de que eles não foram privados, com tranqüilidade para a equipe de trabalhadores.

A nossa  maior dificuldade é com o Instituto Central de Menores, que é uma casa que abriga adolescentes com delitos muito graves; temos um população que, tendo cometido o delito antes dos 18 anos, permanece conosco, podendo ficar até os 21 anos, o que nos dá uma população  de mais ou menos 50% de jovens entre 18 e 20 anos o que representa realmente uma dificuldade, um desafio para esse trabalho. Por diversas razões, inclusive, pelas dificuldades de operar as mudanças de um paradigma de atendimento com pessoas que vinham de uma outra realidade, fizemos diversas intervenções no Instituto. Lamentavelmente, conseguimos descobrir que as questões de segurança não eram tratadas abertamente, como devem ser, e quando não se trata abertamente das questões de segurança dentro da concepção de democracia e de segurança como alguma coisa necessária, aberta, franca, ela ocorre de uma maneira oculta, perversa, com mecanismos que incluem maus tratos, e incluem relações de barganha e de negociações não adequadas, portanto antipedagógicas, e até quase, em alguns pontos, com características de contravenção.

Considerando todas essas questões, conseguimos desmontar os esquemas ocultos, perversos e não fomos capazes, num determinado momento, de restaurar a organização dessa casa dentro dos princípios que coloquei. Por essa razão fizemos um acordo com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública no sentido de ter uma colaboração da Brigada Militar através de três oficiais da Brigada que, juntamente com a nossa  equipe técnica e com a participação da Direção da FEBEM, dispuseram-se a fazer um trabalho com o objetivo  de reorganização e restauração desses aspectos de disciplina e segurança.

Havia, realmente, risco sério de vida. Estávamos na iminência de ter vidas perdidas a lamentar. Tivemos uma situação muito parecida com a que aconteceu no Distrito Federal, em que lamentavelmente vieram a falecer alguns jovens num incêndio. Chegamos a ter um incêndio em que até por uma prontidão do Corpo de Bombeiros e colaboração de oficiais da Brigada, que são mais capacitados nessa situação de emergência do que nós, evidentemente, não houve nenhuma morte a lamentar. Os cinco adolescentes que tiveram que ser atendidos no Pronto Socorro foi por intoxicação por fumaça, e depois de um tempo de atendimento, voltaram sem problemas físicos mais graves.

Estou falando numa instituição porque as outras cinco estão sob nosso controle, a não ser aquilo que é constitucional e que é do próprio Estatuto, da própria Lei, a segurança externa. A segurança externa de qualquer estabelecimento dessa natureza é função específica da Brigada Militar continuará sendo, e não há nenhuma alteração nisso. Não depende de convênio, isso é apenas a aplicação da própria Lei. A diferença que houve, além de um reforço da segurança externa, que era uma reivindicação nossa há muito tempo, foi a colaboração desses três oficiais da Brigada que estão participando da Direção do Instituto, e é uma colaboração temporária, discutida conosco. Ontem mesmo, à tarde, tivemos uma reunião com a Direção para fazer uma avaliação desses dois meses, de como está a situação agora. A situação não está totalmente reconstituída.

Esse Instituto que, até por uma curiosidade, foi inaugurado como presídio político em 1964, que funcionou como tal  durante um tempo, e depois passou a servir aos fins a que se destinava. Perguntaram-me, o conjunto de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, se havia uma caixa preta na FEBEM. Digo: exatamente, era uma caixa preta. Vejam a contradição: foi no desmonte da caixa preta, foi no desmonte das práticas ocultas que, realmente, se perdeu o controle. Foi exatamente quando afloraram determinadas verdades, muito feias e muito sérias, que nós tivemos esta dificuldade. As dificuldades são de diversas natureza.

Nós temos outras casas. Nós temos, por exemplo, o Instituto Educacional Feminino, que é destinado a adolescentes meninas, que cometem delitos graves, de todo o Estado, e que é uma casa que já funciona da maneira como nós queremos. É uma casa em que existe segurança, existe organização e existem ótimas condições de atendimento. Agora, é uma casa que tem 35 vagas e que nunca tivemos mais  de 31 jovens ali internadas. É uma casa que tem alojamentos individuais, que tem espaço para sala de aula, oficina, pátio, esporte, lazer, atendimento e que funciona muito bem e segue à risca todas as orientações emanadas pela Coordenação, pela Direção da FEBEM e que tem apresentado ótimos resultados, inclusive de recuperação. E não me venham a dizer que as jovens do sexo feminino são menos infratoras do que os jovens do sexo masculino. O perfil delas é da mesma gravidade, inclusive com a prática de homicídios, participação em quadrilhas, tráfico de drogas, quer dizer, são delitos realmente graves, mas há condições de atendimento, porque o ambiente está propício.

Temos uma outra casa, que é o Instituto Juvenil Masculino, que é parecido arquitetonicamente com o ICM, mas que se mantém graças a um trabalho; e é uma casa mais nova, é uma casa que tem menos história, é uma casa que tem menos caixa preta e que nós conseguimos trabalhar com ela através da dedicação dos seus funcionários e de uma maior adesão à proposta e aos programas de capacitação.

As outras casas do interior são casas de semi-liberdade, elas não são casas fechadas e elas estão indo bastante bem.

Então, como os Senhores podem ver, existe o problema, e este problema está em processo de equacionamento. Estamos com esta parceria com a Brigada, que é temporária. Estamos elaborando o projeto de retomada desta casa, que vai coincidir com uma coisa muito boa, que, com estes 4 Centros de Juventude, cada um com 40 vagas, nós vamos ter uma descompressão desta população, vamos poder ter menos garotos, ter um número proporcional de funcionários, adequados a esse atendimento. E acredito que, apesar das condições arquitetônicas tão horríveis, vamos poder fazer um trabalho de melhor qualidade.

A partir de julho, vamos ter uma casa em Uruguaiana e uma casa em Pelotas. E pretendemos, ainda, no ano que vem, dar início à construção das últimas quatro, pois o projeto é de dez, uma em Passo Fundo, uma em Novo Hamburgo, outra em Santa Cruz do Sul e outra na região litoral, que é em Osório.

Quero dizer que  encontramos essa organização sucateada, há muitos e muito anos, não apenas no Governo  anterior, mas no anterior do anterior, que não havia nenhum investimento significativo na área de infratores.

Esse nosso projeto constrói, depois de mais de 20 anos, numa realidade totalmente diferente de 20 anos atrás. Conseguimos a autorização  para a  realização de um concurso público que vai nos permitir renovar  e ter um quadro formado já dentro dos princípios e programas que foram elaborados.

Conseguimos um orçamento do Estado que permitiu que já tenhamos essas quatro obras em fase final, mais duas que já iniciaram, a de Uruguaiana e a de Pelotas e temos previsto para o ano que vem  a conclusão desse ciclo inicial de descentralização, com essas dez casas.

Estamos, também, com orçamento previsto para o reordenamento e aperfeiçoamento do programa de crianças e adolescentes portadoras de necessidades especiais.

E já que estamos às vésperas do Dia Mundial de Combate à AIDS, queremos dizer que o nosso programa de atendimento à crianças abandonadas, portadoras de HIV, é considerado modelo pela Secretaria da Saúde e que nós temos o melhor índice de sobrevida de crianças nessas circunstâncias do Brasil.

Esse é um programa que vale a pena conhecer.

Só queria, Sr. Presidente, convidá-los a visitar a nossa obra que vai ser inaugurada em seguida, o Centro de Juventude, e também colocar à disposição dos senhores Vereadores  aquilo que é feio. O nosso trabalho é absolutamente transparente, pois nada temos a esconder. Estão todos convidados a visitar todos os nossos programas. Muito obrigada.

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE  (Isaac Ainhorn): O Ver. Cláudio Sebenelo, que é o requerente da presente Sessão está com a palavra,  de acordo com o art. 138 do Regimento.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ilustre visitante, Dra. Maria Josefina Becker, Diretora da FEBEM, há muito tempo que esta Câmara vem se preocupando e debatendo com relação à essa instituição, inclusive com o destaque de participação de alguns vereadores pelo seu interesse e solidariedade à Direção pelas inúmeras dificuldades naturais e excepcionais que ocorrem nesta administração.

 Queremos ressaltar para o corpo de Vereadores desta Casa alguns dados que são fundamentais nessa explanação tão rica e ampla que nos trouxe a Dra. Maria Josefina. Primeiro, essa é uma situação de exceção pelo legado de uma administração sendo desenvolvida ao longo de todos esses fenômenos de acúmulo de dificuldades, tanto na área administrativa, mas, especialmente, na área de recursos humanos.

Em segundo lugar, pelas condições legais da própria imputabilidade do menor, pelas condições físicas, pelas condições geográficas, por todas as dificuldades que desafiam, cada vez mais, as instituições a substituir a orientação dos pais . Mais do que isso, os eventos que todos os jornais noticiaram  que vão desde de incêndios e rebeliões até pequenos problemas internos de boicote, de tentativa, especialmente, de impedir que se faça uma revolução nessa área e que se faça, através do simples cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, uma mudança, uma alteração importante nessa estrutura que já está viciada, e que tem inúmeras dificuldades. Temos conhecimento, pela imprensa, com muita freqüência, desses desvios administrativos, desses desvios de personalidade, muito vezes, particularizados e com nomes de profissionais, de funcionários até das dificuldades maiores com a concentração criminal que representa o Instituto de Central de Menores. Tudo isso faz com que essa idéia de descentralização seja talvez fundamental, principalmente, levando em consideração as imensas dificuldades e a crise fiscal que aflige a todos os governos de todos os estados. Algumas coisas que a Dra. Maria Josefina afirmou são fundamentais. A presença da Brigada Militar ou de alguns de seus representantes foi eventual e em momentos de crise, inclusive, com risco de vida.

Em terceiro lugar, as dificuldades foram contornadas pela presença de oficiais da Brigada Militar, experientes na área da segurança, sem que houvesse uma intervenção militar no Instituto Central de Menores. Porque a questão certamente é de segurança, mas não é militar. Principalmente por esses direitos, legalmente adquiridos pelos menores, temos que ter um cuidado, mesmo que seja excessivo, mas que pelo menos o excesso seja favorável aos menores e não, do ponto de vista legal, contra o menor.

Por isso, ao me congratular com a ilustre visitante, Dra. Maria Josefina, pelo trabalho que está sendo feito, vou-me incorporar à caravana de Vereadores que vai fazer a visita. Temos absoluta certeza da mais cristalina transparência do trabalho que está sendo feito. E queria ressaltar que há muito tenta-se resolver, pelos problemas que o Estado enfrenta por todos os governos - porque todos querem acertar, querem consertar, querem reformular, modificar e arrumar a casa - mas foram impotentes pelos problemas específicos dos governos estaduais. Principalmente pela situação de emergência que eventualmente ocorre, e pelas situações gravíssimas, inclusive com risco de vida dos menores, - isso é fundamental, - e com risco de vida dos profissionais que lá trabalham.

 Parece que, se não forem tomadas atitudes importantes, como estas que estão sendo tomadas, inclusive pedindo auxílio, vamos ter um panorama muito mais calmo, mais tranqüilo, muito mais voltado para aquilo que a sociedade aspira em relação ao seu futuro, que são os menores, as crianças, num país onde temos tantas dificuldades e, realmente reconheçamos no Rio Grande do Sul, não uma ilha de tranqüilidade, mas uma exceção em relação a problemas como ontem ocorreram na Cidade de São Paulo, onde um menor foi morto com um tiro de mosquetão, numa rebelião num presídio. Isso faz parte da crônica diária dos nossos jornais, para o nosso estupor e para nossa  vergonha, como seres humanos. Muito obrigado por ter atendido ao convite desta Câmara, e em meu nome e em nome de todos os Vereadores, tenho certeza, manifesto a admiração pelo trabalho que está sendo desenvolvido. Obrigado.                                   

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Renato Guimarães está com a palavra.

 

O SR. RENATO GUIMARÃES: Gostaria de agradecer a presença da Sra. Presidente da FEBEM. Já de longa data na militância no movimento popular, no Conselho Tutelar, como articuladores na Cidade, acompanhamos o processo que vem sendo executado na FEBEM, de reestruturação, levando em conta os princípios do ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente.

 A Presidente nos colocou que a visão do Código de Menores que orientou a construção dessa Instituição deve ser reformulada. O ECA aponta novos princípios e por isso há a necessidade de se repensar as instituições que fazem o atendimento ao adolescente e à criança.

 Para a minha alegria - falei isso nesta Casa quando tive a oportunidade de me pronunciar em razão da medida que levou a Brigada Militar a participar da administração do ICM, e posso colocar hoje - a Presidente colocou que essa é uma medida temporária, extraordinária e que os princípios e diretrizes do ECA é que devem nortear o atendimento ao adolescente infrator na instituição.

Traz alegria, porque nós, que com muito custo estamos lutando na defesa da criança e do adolescente, sabemos o tamanho da importância de termos clareza e não confundir o atendimento do adolescente infrator com o atendimento de presidiários. Esse é um elemento importante e esclarecedor que vem à Casa. Gostaria de registrar, aqui, que temos muita preocupação com a questão da lotação de adolescentes que são atendidos pela Entidade. Nós já ouvimos, em vezes passadas, que os Centros de Atendimento à Juventude viriam para reformular essa idéia de atendimento, portanto, para descentralizar essas casas. Eu tenho uma preocupação, pois, em Porto Alegre, o ICM  estaria com uma população de 150 a 160 adolescentes.

 

A SRA. MARIA JOSEFINA BECKER: São 129 adolescentes.

 

O SR. RENATO GUIMARÃES: É? E que a casa que estava para ser inaugurada tem capacidade para 40 adolescentes, pelo menos é o que está  na proposta. Portanto, por um certo período continuaríamos com a superpopulação  de menores.

Gostaria de saber da Presidente como ela vê, num período médio de tempo, a solução para esse problema.

Nós tivemos, aqui na Casa, usando a Tribuna Popular, os moradores da Região Cruzeiro, trazendo o problema do Centro do Zona Sul. Lá existe uma escola funcionando e nós tivemos, lá em comissão, este Vereador e os Vereadores Carlos Garcia e Guilherme Barbosa  e constatamos um prédio muito grande e que está em péssimas condições de conservação.

Gostaríamos de saber da Presidente que projeto nós temos para aquele local.

Outra questão que me preocupa muito - e tenho acompanhado através dos jornais e reuniões do Conselho Municipal de Assistência Social - é sobre as tratativas da municipalização da assistência social. Isso me preocupa, porque sabemos que a municipalização é uma diretriz importante que o ECA, a LOAS,  o SUS, o conjunto de ferramentas que construímos, apresenta. Mas a municipalização não pode ser confundida com prefeituralização, apenas com repasses de serviços e programas e não repasses de verbas.

Nós sabemos dos escassos recursos financeiros que, hoje, aportam  o setor de assistência social  no Governo do Estado. Sabemos que o principal problema da FEBEM é de ordem financeira, como obter recursos para fazer as coisas funcionar. Como é que a Presidenta está vendo isto e qual a proposta que apresentaram?

 

O SR. PRESIDENTE: Tem a palavra o Ver. Pedro Américo Leal.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: É apenas uma pergunta. A Senhora administra um descompasso entre o que legisla e a estrutura que a Nação entrega para ser administrada. Pergunto: nesta busca de conservar o binário educação/disciplina - e é necessário, é por aí o rumo, posso dizer que é pois sou um educador, um instrutor - qual a possibilidade de nós nos desvencilharmos do ICM daqueles menores que foram transformados em maiores e que delinqüiram? Porque o problema está aí. São jovens com 19, 20 anos que estão internados quando deveriam estar no presídio. Repito: maiores de 18 anos devem estar no presídio. Não há porquê estarem internados. Por que isso? Por que esse absurdo?

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa  interrompe este trabalho devido a uma matéria que regimentalmente tem precedência sobre todas as outras, que é pedido de licença de Vereador.

O Ver. Antonio Hohlfeldt solicita licença para tratamento de interesse particular no dia de hoje. Em votação.  Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

A Mesa declara empossado o Suplente Gilberto Batista, em substituição ao Ver. Antonio Hohlfeldt, e informa que o mesmo integrará a Comissão de Educação, Cultura e Esporte da Casa.

A Vera. Maria do Rosário está com a palavra.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, eu quero destacar a importância da presença, nesta Casa, da Presidente da FEBEM, Dra. Maria Josefina Becker, porque muitas e muitas vezes tratamos da questão da FEBEM. E eu acho que na fala da Dra. Maria Josefina ficou muito bem estabelecido que a FEBEM é um todo; é uma instituição com diferentes atribuições nos dias de hoje. E, normalmente, quando tratamos da questão do ICM nós generalizamos a situação da instituição. Acho que é importante ressaltarmos o tratamento diferenciado e altamente especializado que existe em cada área. Diferenciado, inclusive, na municipalização de alguns desses programas, que são também de nossa responsabilidade, pois cabe-nos, enquanto Câmara de Vereadores, debater, analisar e, dentro dos princípios do ECA, trabalhar nesse sentido, uma vez que o ECA prevê a municipalização das ações.

Nós conhecemos, Dra. Maria Josefina, - ou pelo menos acompanhamos - a falência das propostas anteriores ao ECA. E, sem dúvida, nesse período, mesmo passados já sete anos da nova Legislação, nós ainda temos  um processo híbrido,  no qual, do ponto de vista legal, nós conseguimos avançar e, do ponto de vista da compreensão dos agentes que atuam com criança e adolescente, conseguimos avançar em parte, mas as instituições, como FEBEM, permanecem ainda como uma estrutura muito precária para atendimento e com estrutura anterior à legislação vigente, uma estrutura que não nos permite desenvolvermos o estatuto da criança e do adolescente na sua plenitude, inclusive, no sentido do atendimento dos jovens autores de ato infracional.

Como trabalhar essa contradição? Eu lhe pergunto, se nós, nessas dez casas que teremos no Estado, estamos dando um passo, não somente para a regionalização, mas no sentido da descentralização do ICM, ou que caminho  vamos realizar? Porque, considerando muito importante que essas dez casas cheguem o mais rápido possível à comunidade e ao atendimento dos nossos jovens, acredito que precisamos, também, dar passos seguros no sentido de constituirmos do ICM como uma instituição de recebe jovens de diferentes graus de práticas de ato infracional.

Gostaria de convidá-la a explanar o papel do juizado da infância e da juventude em relação a isso. Sabemos que a Senhora tem um amplo trabalho desenvolvido junto ao juizado e sabemos que a instituição tem seus limites no sentido do atendimento, mas permanece sendo demandada o ingresso de jovens dentro da instituição. Então que contradição é essa que nós fazemos, eu mesma tenho feito, à crítica da superlotação, mas, na verdade, não temos outras instituições que recebam os jovens autores de atos infracionais e juizado permanece demandando a incorporação de  novos jovens à FEBEM mesmo com ICM em situação de superlotação e de conflito interno.

Gostaria, também, de destacar, do ponto de vista do projeto pedagógico, que precisamos termos nele, justamente, a retomada, poderíamos dizer da cidadania esperança, mas prefiro dizer da esperança de alguma possibilidade diferente  de futuro daquilo que a vida inteira esses jovens viveram. Então, eu pergunto, se a escola, dentro de um princípio de incompletude da instituição, gerenciada a partir da Secretaria  de Educação do Estado, o atendimento de saúde, gerenciado a partir da Secretaria da Saúde, se essas instituições, se esses espaços também estão discutindo e qual é o projeto pedagógico apresentado dentro da escola para que ele possa, de fato, abordar os jovens que tiveram uma vida de fracasso escolar, que tiveram uma vida de desesperança, uma vida de não-aceitação, dentro da escola formal. Nós não podemos, enfim, dentro da instituição repetir a escola formal como ela se encontra.

Por fim, quero perguntar sobre o atendimento diferenciado como prevê, se não me engano, posso ser corrigida pela presidente da FEBEM, o art. 112, Parágrafo 3º  do ECA, quanto ao atendimento individual e especializado aos adolescentes deficientes mentais e autores de ato infracional, porque aqui nós temos dentro da instituição também aqueles que são psicóticos e qual é o atendimento que nós damos, diferenciado, dentro do universo de atendimento da FEBEM. São algumas questões, e, cumprimentando mais uma vez a sua presença, a disposição para o diálogo que, enfim, nós reconhecemos sempre. Obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Ver. Gilberto Batista (desiste); Ver. Antônio Losada.

 

O SR. ANTÔNIO LOSADA: Queria registrar a nossa satisfação em ter a presidenta da FEBEM nesta Casa e o esforço que ela vem desenvolvendo, no sentido da respeitabilidade às crianças que cometem infração. É um número elevado no Estado, que sofre medidas prisionais, quinhentos e trinta e um, e isso preocupa muito a gente.

Nós vivemos numa sociedade que diariamente produz as crianças, os jovens, adolescentes que cometem infração, muitas vezes pela necessidade de sobrevivência. Nós sabemos o fracasso que tem o sistema prisional no Brasil, inclusive no Estado do Rio Grande do Sul que tem, aproximadamente, nas casas prisionais de presos comuns, adultos, acima de doze mil. A gente vê as dificuldades que tem o corpo funcional específico da SUSEPE, que tem que se socorrer quase que diariamente da Brigada Militar e, muitas vezes, a Brigada Militar não tem o preparo necessário para o trato dessas questões. Pergunto: qual  a  preparação  dos  oficiais  da  Brigada  Militar, do  corpo  funcional - insuficiente - da FEBEM para o tratamento dessas crianças? De que recursos dispõe a FEBEM?  O estado de sucateamento em que chegou a FEBEM nos deixa muito entristecidos. O processo de reordenamento por meio do projeto desenvolvido pela Sra. Presidenta, eu considero de uma importância muito grande; ele merece o apoio desta Casa e da sociedade como um todo.

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Queremos registrar e saudar a presença do sempre Vereador Edi Morelli. Um abraço, Vereador.

A Vera. Clênia Maranhão está com a palavra.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores; Sra. Maria Josefina, Presidenta da FEBEM, algumas das colocações que eu queria fazer já foram feitas pelos Vereadores que me antecederam. Mesmo assim, eu quero utilizar este tempo para agradecer à Presidenta da FEBEM a disponibilidade em vir à Câmara Municipal para prestar esclarecimentos, informações aos Vereadores desta Casa. Eu tenho acompanhado o trabalho da FEBEM, e todos nós sabemos da complexidade das ações que devem ser desenvolvidas nessa área e do conjunto de atribuições que, evidentemente, tem a dirigente de um órgão do porte e da diversidade da FEBEM. Quero, além de parabenizar a política  de defesa dos direitos das crianças, lá estabelecida, agradecer, também, a sua disponibilidade em vir até aqui, acrescentando, na sua agenda, o debate desta manhã. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos, agora, a palavra à Presidenta da FEBEM para as suas respostas e considerações finais.

 

A SRA. MARIA JOSEFINA BECKER: Obrigada, Sr. Presidente e Srs. Vereadores que se manifestaram.

Eu anotei os principais pontos da fala de cada um. Gostaria de fazer um comentário sobre o que disse o Ver. Cláudio Sebenelo a respeito dessa questão de pessoal, e ao mesmo tempo respondo ao Ver. Losada. Nós sabemos que trabalhar com adolescentes infratores é muito difícil e extremamente desgastante. Se não tivermos e não havia até chegarmos, um processo permanente de capacitação, de reciclagem, de treinamento desse pessoal, dificilmente se fará um bom trabalho. E aquilo que descrevi como sendo aquele subterrâneo e as medidas alternativas para manter a segurança são, em grande parte, fruto desse desgaste e dessa falta de capacitação e supervisão técnica permanente do pessoal.

Este é um ponto crucial. Estamos investindo em capacitação com verbas, inclusive, do Ministério da Justiça e estamos com um projeto que está em elaboração, considerando a especificidade e especialidade dessa área. Assim  como existe uma Escola Estadual de Saúde Pública, uma Escola Penitenciária, uma Escola da Polícia Civil, achamos que deve de ter uma escola de ação sócio educativa, alguma coisa permanente para receber os funcionários novos, que vêm através de concurso público, e manter em processo de atualização constante os demais. Sem isso nunca vamos ter um quadro preparado e de acordo. Porque a escola de 2º grau não forma monitores, e a universidade não forma técnicos especializados para essa área tão difícil.

Então, sobre essa questão de pessoal, considero o ponto mais crucial de todos, diria que os recursos humanos são mais cruciais que a própria arquitetura, embora essa venha logo depois, porque administrar gente morando naquelas masmorras que tenho lá é muito difícil.

Ver. Renato Guimarães, realmente a medida é temporária, sempre foi. E já estamos num processo de estudo da retomada e da capacitação de pessoas para que possam assumir a direção da casa.

A questão da superlotação me remete ao questionamento da Vera. Maria do Rosário. De fato não somos senhores da demanda. Somos executores de determinações judiciais. O que estamos procurando fazer é através de um fórum que foi criado no Estado, fórum de articulação do sistema gaúcho de atenção ao adolescente autor de ato infracional, incentivar em todas as Comarcas deste Estado a implantação dos programas de medidas alternativas e a privação de liberdade. No momento em que a liberdade assistida e a prestação de serviços à comunidade estiver funcionando, muitos desses jovens não serão reincidentes, não agravarão os seus problemas de conduta e não necessitarão, portanto, da privação de liberdade.

A questão, Ver. Renato Guimarães, do Centro Infanto-Juvenil Zona Sul é uma questão muito complicada, por ser um prédio megalômano, construído na década de 70, na época que chamo de "FEBEM Grande do Sul". A FEBEM era onipotente, onipresente e ia resolver, como se dizia na época, o problema do menor. Para isso eram grandes as construções, e tudo o que é mégalo, tudo o que é imenso, é anti-humano, fica sucateado, não funciona, pois as dimensões das coisas têm que ser adequadas a grupos que possam ter convívio, etc. Está funcionando, e vai continuar funcionando lá, uma escola pública estadual aberta. Existe um posto do SUS funcionando lá; o programa de atendimento em meio aberto, que se fazia lá, estava em processo de municipalização, mas tivemos um sinistro no prédio e não tínhamos previsto em orçamento verbas para recuperação do prédio do jeito como está,  pois os engenheiros disseram que há uma parte que tem que ser demolida. Depois da demolição pretendemos nos reunir com os parceiros da área de educação, da área de saúde e da área da FESC, para ver que destino final dar àquele equipamento.

Relativamente à questão da municipalização, concordo, plenamente, que municipalização não é prefeiturização, e concordo que o processo de  municipalização não deve significar a passagem, como já me disse um Prefeito, do ônus sem o bônus; isto é, a passagem dos programas, das responsabilidades sem um maior acesso a recursos. Isso é, de fato , um problema sério. Eu gostaria de lembrar que diferentemente da Lei Orgânica da Saúde que prevê todos os passos do processo de municipalização, a LOAS não prevê isso, a LOAS é muito pouco específica e o Estatuto não tem nada sobre isso. Então, já fizemos, inclusive, uma consulta ao CNAS, através do Secretário Executivo Dr. José Moroni, para que ele encaminhe ao CNAS consulta a respeito disso e estamos sugerindo que seja feito não sei se uma lei federal ou se seria um decreto regulamentando a LOAS. Nós estamos esbarrando no processo de municipalização; por exemplo, a questão de recursos humanos, porque a saúde permite a locação dos recursos humanos no programa municipalizado. Não há nenhuma previsão legal para fazer isso em relação aos funcionários da área da promoção de defesa de direitos e na área da assistência social.

Nós reconhecemos esse impasse e achamos que deveria haver uma mobilização de quem milita nessa área para que a União possa regulamentar o processo de municipalização. Acredito que o modelo existente é o da Lei Orgânica da Saúde, que talvez pudesse servir como inspiração.

 Ver. Pedro Américo Leal, com quem venho discutindo e debatendo há muito tempo, inclusive nos meios de comunicação, o que V.Exa coloca aqui é uma questão muito séria, que é a questão dos jovens que completam 18 anos e permanecem no sistema. Eu quero lhe dizer que isso é tão sério que no Distrito Federal houve a transferência desses jovens , na medida em que iam completando 18 anos, para a minha conhecida "Papuda", eu não sei o nome oficial, só sei o apelido da penitenciária de Brasília. No entanto, considerando a legislação vigente, houve o retorno desses jovens. Acredito que se eles tivessem permanecido talvez não tivesse sido tão grave, mas a passagem deles pelo sistema penitenciário e o retorno para a instituição foi , realmente, muito complicado.

O que acontece, Vereador, é que a lei determina é que, se o jovem comete o delito antes dos 18 anos, ele está sob jurisdição da Justiça da Infância e da Juventude e sujeito às medidas do Estatuto previstas no artigo 112 e seguintes, e que ele se livra solto aos 21 anos, se não for liberado antes por ter conquistado uma progressão. Então, isso faz com que o sistema de atendimento precise se adaptar a esse perfil da população. Eu quero dizer que aqui reside um dos nossos grandes problemas, que não tínhamos pessoal preparado, o último concurso foi em 1991, e o Estatuto entrou em vigência em 1990 e, progressivamente, nós estamos tendo uma maior quantidade de jovens entre 18 e 21 anos. No Brasil todo está sendo discutido e nós precisamo-nos preparar melhor para atender esses jovens e cumprir adequadamente a Lei.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: É um descompasso entre legislar e executar.

 

A SRA. MARIA JOSEFINA BECKER: Exatamente, aliás, nesse  ponto a Vera. Maria do Rosário traz uma coisa que também é um descompasso, entre cumprir a lei e ter condições de. Eu acredito que está correto, que o delito foi cometido antes dos 18 anos. Agora, isso tem implicações com todo o sistema de atendimento, não é? Quando o Ver. Antônio Losada se refere a crianças, eu até sugiro que ele visite as nossas casas. Eu acho importante colocar isso porque faz parte da complexidade do problema e eu confesso, com muito franqueza e transparência, que a reciclagem e preparação dos nossos recursos humanos para esse perfil é um dos nossos maiores desafios. E é nisso que estamos investindo agora.

Eu tenho no ICM, em data de 12,10, uma população de 140, embora o Estatuto prevê que eles podem ser internados, em privação de liberdade, dos 12 até os 17 anos11 meses e 29 dias. Eu tinha com 12 anos de idade, "zero", com 13 anos, "zero", com 14 anos, "4", com 15 anos "7". Portanto, com menos de 16, apenas 11 adolescentes estavam no ICM. Realmente, eu tenho uma população de jovens adultos, entre 16 e 21 anos de idade. E essa população está ainda em desenvolvimento e deve ser atendida nessa perspectiva, exige formação diferente daquela exigida para meninos de 12, 14 anos. É uma outra fase da adolescência, é a fase final, são os jovens adultos. Esse é um dos nossos grandes desafios. A Vera. Maria do Rosário se referiu as contradições que incluem esse descompasso temporário entre as demandas reais, as demandas oriundas da lei e a nossa capacidade de responder a essas demandas.

A regionalização vai descontrair o IJM e o ICM, ela vai colocar os jovens próximos das suas residências, da sua cultura, etc. Não é nessa Administração Estadual que vamos conseguir fazer aquilo que eu gostaria muito, desativar para sempre esses equipamentos. Precisaríamos  na região metropolitana de, pelo menos, quatro centros de juventude para dar conta de toda essa demanda. Vamos construir 10 regionalizados, um deles em Porto Alegre. Em Porto Alegre precisaríamos de quatro. Talvez não seja possível, mas pretendemos construir dez na nossa Administração, seis já estão certos, faltam quatro para atingirmos a meta. O próximo Governo de Estado poderá construir mais na região metropolitana que é de onde vem o maior número de demanda.

Em relação a questão do cumprimento, acho que uma parte dessa demanda diminuiria se as medidas não privativas de liberdade, as  medidas alternativas que correspondem às penas alternativas na Justiça Penal  fossem melhor implementadas em todo os municípios, sobretudo na grande Porto Alegre, tanto a liberdade assistida, quanto a prestação de serviços à comunidade. Assim aqueles adolescentes que acabam privados de liberdade por reincidência não teriam reincidido, teriam ficado no seu primeiro delito, se reorientado, voltado para a escola, trabalhar, e não iriam contribuir para essa superlotação.

Há a questão da  proposta pedagógica que contempla essa faixa etária, que é  diferente da primeira fase da adolescência. A defasagem idade-série é muito grande. A moda de escolaridade dos nossos jovens é 4ª série do primeiro grau, quando a moda da faixa etária é 17 anos. Vejam os senhores que há uma defasagem muito importante. Dessa população de 500/520, em geral temos cinco de 2º grau. É um número quase insignificante, um número razoável das últimas séries, mas a grande massa se concentra na  3ª, 4ª e 5ª séries do primeiro grau, e a recuperação dessa defasagem é um desafio enorme, e temos esperança que, com  centros pequenos, com menos jovens, seja mais favorável o trabalho pedagógico, inclusive com a utilização de algumas técnicas que vêm sendo estimuladas pelo próprio Ministério da Educação, as técnicas de aceleração, toda a metodologia mais moderna de recuperação para que eles possam atingir um grau mínimo de empregabilidade, porque a empregabilidade, cada vez mais, depende da escolaridade e  menos de cursos específicos para pessoas que não têm o primeiro grau.

 Os nossos estudos a respeito do perfil do mercado de trabalho vem demonstrando que o primeiro grau completo tem sido pré-requisito para qualquer tipo de ingresso no mercado de trabalho. Isso também é um grande desafio, uma grande preocupação que temos.

Finalmente, em relação ao que coloca o Ver. Losada, que se referiu às crianças, muitas vezes tenho recebido críticas de que a instituição é muito fechada com características prisionais. Disseram-me que eu estava construindo presídios infantis. Evidentemente, convidei a pessoa para visitar o ICM e o IJM para ver de que crianças estamos falando. São jovens, estão em desenvolvimento, merecem o nosso respeito e consideração. Acreditamos na possibilidade de recuperá-los. Mas não são crianças, e precisamos nos equipar para oferecer  o melhor atendimento possível. Para concluir, não são os mais  pobres, os mais "de rua", os mais miseráveis que praticam  os delitos mais graves, esses praticam  os delitos de sobrevivência. Os nossos jovens, em geral, não são. Só 5% dos jovens que cometem os delitos graves são originários da população de rua, eles têm um pouco mais, em geral.

Mas isso é um outro capítulo que mereceria uma outra exposição, passei  todo o tempo que eu tinha disponível, mas é que as perguntas foram tão ricas e  tão importantes que eu não poderia deixar de me referir a elas. Muito obrigada.

Gostaria de oferecer à Biblioteca da Câmara um livro editado pelo Fórum dos Presidentes de Entidades onde os senhores verão as normativas nacional e internacional a respeito do que tratamos nesta Sessão, escritos por dois juízes importantes.

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos dizer que, se todas as Instituições tivessem pessoas com esta garra, com esta vontade, com este entusiasmo, com esta determinação em resolver o problema que a Senhora mostrou aqui, feliz seria este nosso País. Este é um aspecto que nós temos que considerar sempre, há uma falta de capacidade, de gerenciamento do nosso processo, de uma maneira geral, no Estado brasileiro. E as pessoas, quando assumem, têm propostas e levam adiante, querem fazer, buscam soluções, elas precisam ser reconhecidas. Pelo menos da parte desse Presidente, V. Sa. pode levar esta impressão.

Nós agradecemos as respostas feitas a todos os Vereadores e tenho certeza de que foram muito úteis.

Nós suspendemos a Sessão por alguns minutos, para as despedidas.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 10h51min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 10h55min): Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão.

É com muita satisfação que  recebemos da Sra. Maria  Josefina  Becker o  livro que se chama "Adolescentes Privados  de Liberdade" - a normativa nacional e internacional & reflexões acerca da responsabilidade penal”, que se encontra à disposição na nossa biblioteca. É um livro de grande interesse para todos que estão envolvidos com o assunto.

Anunciamos com muita satisfação o nascimento de Pedro Ruas Filho. Parabéns ao Ver. Pedro Ruas, à sua Senhora Dona Ângela e aos seus irmãozinhos.

O Ver. Pedro Ruas solicita licença paternidade no período de 14 a 17 de novembro do corrente ano, nos termos do § 6º do Art. 218 do Regimento.

A Mesa declara empossado o Suplente Mário Fraga em substituição ao Ver. Pedro Ruas, nos termos regimentais.                         

Solicito que conste nos Anais a visita do Colégio Sevigné, 3ª série da manhã, com as Professoras Cristine a Ângela. Fica constatado o nosso agradecimento a visita.

                     

O SR. GUILHERME BARBOSA (Questão de Ordem): Sr. Presidente, apenas para registrar a satisfação deste Vereador em ver que a nossa Casa já está utilizando papel não clorado, colocando em prática uma resolução do Ver. Darci Campani que também se estende ao Executivo. Acho que é um fato importante na proteção ao meio ambiente.

 

O SR. PRESIDENTE: V.Exa., como membro da Mesa, tem sido um dos principais gestores dessa providência que, felizmente, depois de muitas dificuldades em termos de editais e concorrências, nós conseguimos começar a trabalhar com esse papel. Estamos de parabéns graças, também,  a ajuda de V.Exa.

 

O SR. PEDRO AMÉRICO LEAL(Questão de Ordem): Gostaria que V.Exa. nos desse  informações sobre a nossa ida para o Plenário Otávio Rocha.

 

O SR. PRESIDENTE: A partir de 30 de novembro. A Mesa pediu para ser entregue a todos os Srs. Vereadores um convite para a 6ª Semana da Consciência Negra. De 14 de novembro a 11 de dezembro do corrente ano, em Porto Alegre. Existe um convite a partir da Prefeitura Municipal e um outro a partir das propostas feitas pela Câmara. Queremos dizer que  foi importante a formação de uma Comissão  plural,  representativa dos movimentos, inclusive partidariamente, indicadas pelas  bancadas e pelos movimentos. Entregamos os dois convites aos Srs. Vereadores, estão convidados a participar dos eventos a partir de hoje.

 

O SR. NEREU D'ÁVILA (Requerimento): Eu requeiro a inversão da ordem dos trabalhos para entrarmos da Ordem do Dia e que seja apreciado, em primeiro lugar, o processo que trata da planta genérica de valores, PLCE nº 07/97.

 

O SR. PRESIDENTE: Há uma proposta para correr pauta sem discussão, precisamos da concordância de todas as lideranças.

Não há concordância de todas as lideranças.

Em votação o Requerimento do Ver. Nereu D'Ávila que inverte a ordem dos trabalhos, passando diretamente para a  Ordem do Dia e  votando-se, em primeiro lugar, o PLE nº 007/97 ( fl. 8) , que trata do IPTU.

Em votação nominal o Requerimento, por solicitação do Ver. Guilherme Barbosa, (Após a chamada) Por 13 votos SIM, 10 votos NÃO e 01 ABSTENÇÃO, está  APROVADO o Requerimento.

Srs. Vereadores, ontem tivemos o IV Encontro de Mesas Diretoras e Lideranças. Foi um Encontro da maior qualidade onde foram discutidas questões sobre a legislação financeira dos municípios. Alguns Vereadores desta Casa prestigiaram a sessão, em especial os Vereadores Paulo Brum, Lauro Hagemann, Hélio Corbellini, Gerson Almeida, Carlos Garcia e este Vereador.

Foi um ato que deixou uma ótima impressão, porque tivemos 13 Câmaras de Vereadores da Região Metropolitana, aqui, durante toda manhã, quando discutimos, além da Lei Kandir, do FEF e de outros assuntos, os efeitos imediatos do pacote econômico do Governo. Ficou combinada uma reunião para a primeira quinzena de dezembro, em Gravataí.

A Mesa entende que a proposta, de três páginas, deve ser lida, para constar nos Anais desta Casa, porque ela é de envergadura e está sendo enviada ao Presidente da República, ao Congresso Nacional, ao Governo do Estado, aos prefeitos, à FAMURS, à UVERGS, pois todos são aliados nesse movimento que nós consideramos fundamental.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO (Paulo Brum): Lê o documento:

 

" IV Encontro das Mesas Diretoras das Câmaras Municipais da Região Metropolitana de Porto Alegre

 

 

CARTA METROPOLITANA

 

 Os Vereadores da Região Metropolitana, reunidos no IV Encontro das Mesas Diretoras, realizado no dia 13 de novembro de 1997, na Câmara Municipal de Porto Alegre, buscando analisar os desafios que se colocam à região, encaminham propostas para o debate democrático na sociedade.

O atual momento político brasileiro tem se caracterizado pela federalização dos recursos públicos ao mesmo tempo em que se transfere demandas econômicas e sociais para os municípios. Mecanismos como a Lei Kandir, o Fundo de Estabilização Fiscal - FEF, e tantos outros, são implementados sem que haja compensação da perda de receita dos poderes locais. Também a política fiscal, incentivada pelas disputas dos grandes investimentos acaba por atingir a capacidade de intervenção dos municípios, afetando o desenvolvimento e a prestação de serviços públicos essenciais para a população.

Combinado ao movimento de penalização dos municípios, através da definição dos encargos, está a descentralização dos serviços públicos, advinda da Constituição de 1988. A municipalização das políticas públicas, a exemplo da saúde, educação, assistência social, habitação, estradas e segurança acarreta o aumento de serviços prestados em nível local, sem o aumento correspondente de recursos para cumprir tais tarefas, e com a conseqüente perda da qualidade dos demais serviços públicos em nível municipal.

A conseqüência desta política do governo federal é o desemprego e a recessão, que para os municípios acarreta maiores demandas no atendimento das necessidades básicas da população.

Além disso, aqueles encargos que ainda não foram repassados legalmente acabam recaindo sobre os municípios, na medida em que o Estado e a União não cumprem com o seu papel e/ou se omitem na solução dos problemas. 

Frente a este quadro. torna-se urgente a ação comum dos municípios, câmaras e sociedade na luta pela alteração ou compensação pela evasão fiscal advinda dos mecanismos de retenção de parte dos tributos municipais. Ao mesmo tempo, são cada vez maiores os problemas de saúde, educação e habitação transferidos para a esfera municipal, sem que haja mecanismos que permitam o desenvolvimento de políticas comuns para o atendimento básico da cidadania, através de recursos e da participação ativa nas decisões sobre as necessidades e os recursos disponíveis.

Diante desta realidade os Vereadores da Região metropolitana não poderiam deixar essa luta apenas sob responsabilidade dos prefeitos, cabendo também aos legisladores, em nível local, se posicionar frente a grave crise financeira dos municípios.

Os representantes das câmaras municipais signatárias desta carta propõem:

 

EM NÍVEL FEDERAL,

 

1) Quanto a Lei Complementar 87/96 (Lei Kandir):

Buscar as compensações referentes às perdas e a extinção dos dispositivos que permitam o aproveitamento dos créditos referentes à  compra de bens ou serviços caracterizados como o uso e consumo próprio das empresas, a partir de janeiro de 1998.

 

2)Quanto ao Fundo de Estabilização Fiscal ( FEF ):

Mobilizar-se contra a prorrogação do FEF, bem como manter a luta pela exclusão do FPM da composição do Fundo de Estabilização Fiscal.

 

3) Quanto a Previdência Social:

Pressionar pela regulamentação do artigo 202 parágrafo 2º, da Constituição Federal, que estabelece a compensação financeira entre os sistemas de previdência.

 

4) Quanto a Educação:

Reivindicar o restabelecimento do valor integral per-capita da merenda escolar reduzido pelo MEC.

 

Reivindicar a distribuição de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério com a inclusão da matrícula de educação de jovens e adultos e da educação especial no Censo Escolar do MEC.

 

5) Quanto a Reforma Tributária:

Mobilizar a sociedade, legislativos e executivos para a redefinição de competências entre os três níveis de Governo, com o objetivo de descentralização dos recursos,  bem como a implementação de uma política tributária capaz de alterar o grave quadro de concentração de renda no país, exigindo a regulamentação do Imposto sobre grandes fortunas.

 

6) Quanto a Saúde:

Mobilizar-se pela aprovação da proposta de Emenda Constitucional nº 169, que prevê distribuição igualitária de recursos entre a União, Estados e Municípios.

 

EM NÍVEL ESTADUAL

 

1) Quanto a Educação:

Exigir o cumprimento pelo Governo do Estado da aplicação obrigatória de 35% das receitas de impostos, conforme parágrafo primeiro, artigo 202 da Constituição Estadual.

 

Fiscalizar os repasses referentes ao salário-educação, conforme medida provisória nº 1565, de 1997, e fiscalizar os repasses dos recursos referentes à merenda escolar.

 

Exigir o cumprimento da Constituição Estadual no que refere ao Programa de Transporte Escolar.

 

Pressionar as bancadas partidárias da Assembléia Legislativa do Estado e Governo estadual para que seja regulamento o repasse, aos municípios,  dos recursos do Salário Educação.

 

 

2) Quanto aos incentivos fiscais:

Exigir que a política de incentivos fiscais, em especial, através do FUNDOPEM e seus programas setoriais, sejam executadas através de incentivos financeiros e não incentivos fiscais.

 

3) Quanto a multas de trânsito:

Exigir o cumprimento da Constituição Estadual, no que se refere ao repasse dos valores das multas de trânsito, independente de compensações de contas entre Municípios e Estados.

 

O encontro Metropolitano também debateu o recente pacote econômico, identificando seu impacto na economia regional e, igualmente, pontuou diversos problemas comuns que necessitam de reflexão e articulação para o seu enfrentamento. Questões como transporte, segurança, habitação e saúde foram levantadas para aprofundamento em próximos  encontros.

Finalizando, o IV Encontro das Mesas Diretoras da Região Metropolitana  manifestou o seu apoio à luta dos prefeitos e Executivos, da mobilização realizada em todo o País, pela alteração dos mecanismos que hoje penalizam os municípios.

 

 Porto Alegre, 13 de novembro de 1997.

 

(aa)Diversos Vereadores e diversas Câmaras Metropolitanas.”

 

O SR.  PRESIDENTE:  Pelo silêncio que  se fez, entendo que foi porque a carta foi muito bem aceita. Nós temos o compromisso de responder, perante a comunidade de Porto Alegre, pelos nossos atos. Ficaria muito ruim para a Mesa fazer as coisas sem que os Vereadores estivessem completamente conscientes, senão nós estaríamos falando por nós mesmos. Eu sei que os Vereadores têm muitos outros compromissos e que não têm tempo de prestar atenção  nas coisas do coletivo da Câmara. Mas alguns precisam ter esta atenção e, em função dos que querem, a gente está tendo esse tipo de comportamento, de a Mesa  divulgar amplamente este documento.

Nós agradecemos, em especial, à assessoria da Casa pela colaboração para que este assunto fosse levado a termo, inclusive do palestrante Odir Tonollier, que veio fazer uma palestra brilhante, com todas as informações que os Srs. Vereadores das treze Câmaras solicitaram.

Consideramos empossado o Ver. Mário Fraga, que já se encontra na Casa, em substituição ao Ver Pedro Ruas. Seja bem-vindo.

Havendo quórum, passamos à

 

ORDEM DO DIA

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 3039/97 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO EXECUTIVO Nº 007/97, que estabelece a Planta Genérica de Valores para Imóveis territoriais e prediais, altera artigos da Lei Complementar nº 07, de 07 de dezembro de 1973, e dá outras providências. Com Anexos I e II.

 

Observações:

- para aprovação, voto favorável da maioria absoluta dos membros da CMPA - art. 82, § 1º, I, da LOM;

- incluído na Ordem do Dia por força do art. 81 da LOM;

- adiada a discussão por uma Sessão.

 

O SR. PRESIDENTE: Há um Requerimento, assinado pelo Ver. Gerson Almeida, Líder da Bancada do Partido dos Trabalhadores, solicitando o adiamento da discussão do PLCE Nº 007/97 por uma sessão. Em votação o Requerimento

O Ver. Nereu D’Ávila está com a palavra para encaminhar.

 

O SR. NEREU D`ÁVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, estou considerando, no mínimo, estranho o pedido de novo adiamento, visto que, na sessão anterior, nós derrotamos um pedido de adiamento da discussão do PLCL Nº 007/97 por quatro sessões, e acordamos que adiaríamos por uma sessão, ou seja, para hoje, o início da discussão.

Nós sabíamos, por experiência - o que se confirmou plenamente - que, hoje, a sessão, como sempre, teria algo antes da Ordem do Dia. Mesmo apressando os trabalhos, ao inverter a Ordem do Dia,  já são 11h24min, e recém a estamos iniciando. Então, mesmo que se apresse o andamento dos trabalhos, a Ordem do Dia inicia tardiamente. O que isso significa? Significa que nós sabíamos, na quarta-feira, que, no máximo com boa vontade e com a inversão dos trabalhos, iniciaríamos, apenas, a discussão. Já se sabia que a discussão não se iria esgotar hoje, porque, pela complexidade da matéria, é evidente que os Srs. Vereadores vão discuti-la amplamente, e que será, - se esse requerimento for afastado -, adiada a discussão para segunda-feira. E que, possivelmente, segunda-feira se dilatarmos a discussão, - é fácil fazê-lo -, também não se realizará a sessão. Se o intuito é a volta dos dois Vereadores, mesmo sem o adiamento, a prática assim o demonstra.

 Estou achando que está ficando ruim este expediente de adiar. Na quarta-feira concordamos com o Ver. Hélio Corbellini para que entrasse com suas emendas modificativas, aditivas ou supressivas, o que lhe deu tempo de fazê-lo. Agora, não sei qual o argumento plausível, se é o da volta dos Vereadores, praticamente está respeitado pelo processo natural da discussão.

Então, o bom senso, às 11h30min da manhã, - que a população se tranqüilizasse porque não estamos protelando alguma coisa indefinidamente -, o mais plausível, razoável era que se iniciasse a discussão. E eu mesmo digo que concordarei, lá pelas 12h30min, evidentemente muitos Vereadores gostariam de discutir, é compreensível isso, de transferir a discussão para segunda-feira, o que ensejaria a oportunidade para que todos pudessem discuti-la.

Agora, iniciado o processo, feita a chamada para Ordem do Dia, feita votação de uma inversão da Ordem do Dia, iniciado o processo de discussão, entrar com pedido de novo adiamento, é protelação. É protelação, é manobra protelatória, fica escancarada uma situação que não convém ao conjunto da Casa, porque se quiséssemos, então, ir pelo razoável, pelo bom sendo, nós tranqüilamente adiaríamos a votação pela naturalidade da matéria complexa a ser votada. Mas, não, se vê que está-se fazendo firulas regimentais, adiando, tentando barganhar, tentando cooptar Vereadores, inclusive com protelação insustentável com argumento razoável. Denuncio que está-se tentando uma protelação descarada para tentar provar algo que a população não quer e rejeita. Estão fazendo manobras apenas para, irresponsavelmente, adiar-se  matéria dessa responsabilidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, para encaminhar o Requerimento.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu discuti essa matéria, quando se pediu o adiamento por quatro Sessões. Na ocasião não tivemos quórum para votar a solicitação.  Falávamos, na ocasião, que adiar a matéria por quatro Sessões e jogá-la para quarta-feira era demasia, e que o ideal seria que votássemos na segunda-feira essa proposta.

A Casa sabe perfeitamente bem que a Sessão de sexta-feira é complicada, prejudicada por várias coisas, até mesmo pela circunstância de ser a única Sessão pela manhã, e que, com freqüência há  alguns atos que não são aqueles próprios da deliberação, próprios da vocação maior da Casa, que fazem parte do nosso Regimento, da nossa tradição, e que têm que ser realizadas, como Comparecimento ou Tribuna Popular. Agora, está-se dizendo que iremos votar a matéria na segunda-feira. Digam o que quiserem, interpretem como interpretarem, mas eu digo que acho que segunda-feira é um grande dia para votar-se a matéria.

Vou votar a favor para que segunda-feira a Casa enfrente esse assunto com toda a objetividade e delibere sobre a matéria, esgotadas todas as possibilidades de tratativas que estão sendo desenvolvidas sobre uma matéria polêmica, de grande profundidade, de grande repercussão, e que, naturalmente, provocaria todos esses expedientes legítimos que tem provocado, de negociações, de debate, de tentativas de emendas, de substitutivos,  de todos aqueles atos próprios da ação legislativa que devem necessariamente ocorrer em matérias como esta que estamos discutindo no presente momento, se começamos a discutir agora ou se discutimos e votamos na segunda-feira.

 Venho à tribuna para dizer que sou favorável a que se discuta e vote na segunda-feira este projeto. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Hélio Corbellini está com a palavra, para encaminhar o Requerimento.

 

O SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu raramente encaminho questões dessa ordem porque penso que, como dizem aqui, há Vereadores que  raciocinam de pronto e todos que têm suas convicções chegam a conclusões de forma líquida, firme  e transparente.

Eu venho aqui porque acredito que foram utilizadas palavras que não se coadunam exatamente com o que está-se passando. O que está se passando com a questão do IPTU? Há os prós, os contras, mas há aqueles que acham que a função do Vereador, da Câmara de Vereadores é, em primeiro lugar, proteger a capacidade contributiva do cidadão e, em segundo lugar, não exaurir o Executivo dos investimentos necessários nas suas obras sociais. Essa é a disputa ideológica que está acontecendo. Então, é justo e lícito que a Casa faça um esforço de achar uma mediação entre essas duas questões. Não simplesmente ficar no "sim" e no "não".

Estão acontecendo negociações, não são negociações em cima de número de votos e, sim,  conceituais e que só enobrecem esta Casa. Achamos perfeitamente viável e transparente essa proposta de alterar mais um dia, porque temos mais três dias de esforço para chegar a nos convencer das nossas posições e da proposta mais correta dentro dessa linha.

Então, o PSB vota a favor do adiamento por mais uma Sessão. E não é porque falta alguém, ou que virá alguém, ou que na segunda-feira vai faltar, não é por isso. É porque temos a esperança que até segunda-feira nós vamos chegar num consenso sobre isso, que é de interesse: primeiro, o cidadão que está machucado;  segundo, também  não tirando da Administração o seu poder de investimento necessário, que todos nós queremos para o cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Gerson Almeida está com a palavra.

 

O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu vou procurar ser bastante breve porque, primeiro, não há nenhuma manobra protelatória, eu acho que é bom deixar isso claro porque, assim como o artigo 81 do Regimento foi usado para esse Projeto e é regimental e legal, como diz o Ver. João Dib, o adiamento por 1, 2, 3, 4, 5 Sessões é legal e regimental.

Eu não vou dizer para o Ver. Nereu D'Ávila, líder do PDT, que ele está fazendo qualquer manobra ao pedir o 81. Parece-me que não cabe tratar a questão sob esse aspecto. Se for uma manobra, é uma manobra regimental, que me parece não deve ser abolida das relações do parlamento, o Regimento é feito para ser seguido e cumprido, mesmo quando ele beneficia um Vereador  ou outro, ele é o Regimento da Casa.

Em segundo lugar, eu vim a esta Tribuna na quarta-feira passada, exatamente para dizer por que, apesar de ter um Requerimento que adiava a matéria por quatro Sessões, a Bancada do PT abdicou do seu Requerimento em função de um outro acordado com outros partidos e lideranças, que achava melhor por algum motivo. Para mim um compromisso feito com todas as bancadas é o suficiente para que tenhamos a garantia de que não votaremos essa matéria antes de segunda-feira. Quero dizer que de nossa parte, não haverá maiores dificuldades por uma questão muito justa e adequada, pois, numa matéria polêmica e complexa como essa e que divide o Plenário  quase em partes iguais, seria  muito injusto que algum lado ganhasse por presença ou por ausência, não por vagabundagem ou negligência, mas por ter uma Bancada que possui Vereadores em representação da Câmara, e representando a Câmara, unanimemente  votou.

Parece-me injusto, aí sim, usar uma manobra regimental para que possamos votar uma matéria desse quilate. Já houve situações em que a própria Oposição solicitou adiamento de votação com o nosso apoio porque tinha Vereadores que estavam também em representação da Câmara. É inusitado ou incorreto, agora, negar essa possibilidade quando a situação se volta em relação ao Governo. As discussões em curso são necessárias e naturais, elas têm reunido a oposição. O Ver. Nereu D'Ávila não deve impedir, ou achar ilícito que a Bancada do Governo também procure fazer negociações para um projeto de seu interesse.  O surpreendente seria que não o fizesse, uma vez que estamos convencidos da justeza da proposta que estamos apresentando.  Só não faz negociação, ou discussão sobre suas propostas aqueles que não acreditam nelas, não é o nosso caso. Se vamos ser felizes ou não, não sabemos dizer. O art. 81 é que está nos criando essa situação, mas não estamos reclamando dele, ele é legal, lançamos-lhe mão quando achamos adequado, portanto não estamos criticando essa questão. Apenas não gostaríamos de ser criticados, e caracterizados como se estivéssemos fazendo uma manobra ou um protelamento ilícito por um procedimento tão regimental quanto o  Art. 81, - que é o adiamento por uma Sessão, que já foi acordado com vários companheiros Vereadores e Vereadoras desde quarta-feira passada. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador. )

 

O SR. PRESIDENTE: Não há mais encaminhamentos. Em votação nominal por solicitação deste Presidente, o Requerimento. (Após a chamada.)  APROVADO o Requerimento, por 20 votos SIM; 4 votos NÃO e 2 ABSTENÇÕES.

Adiado, portanto, a discussão por uma Sessão, o PLCE nº 007/97.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 1277/97 -  PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 008/97, de autoria do Ver. Fernando Záchia, que altera dispositivos da Lei Complementar nº 197, de 21 de março de 1989, modificada pelas Leis Complementares nºs 308, de 28 de dezembro de 1993, e 321, de 19 de maio de 1994, e dá outras providências. Com Emenda nº 01.

 

Observações:

- para aprovação, voto favorável da maioria absoluta dos membros da CMPA - art. 82, § 1º, I, da LOM;

- incluído na Ordem do Dia por força do art. 81 da LOM.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para discutir.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o que aparentemente pode parecer um tanto complexo, até pelas várias referências numéricas que alteram dispositivos de Lei Complementar em vigor, em verdade, poderia ser até resumido com um projeto isonômico. Falo em homenagem ao Ver. João Dib, que gosta muito de cobrar, aqui, na tribuna e o faz com muita propriedade, a isonomia no Serviço Público Municipal.

Esse Projeto poderia ser identificado como isonomia na tributação municipal no que diz respeito ao adquirente da casa própria, já que temos uma situação de coexistência diversificada entre três realidades que são as que ocorrem hoje, especialmente, para a classe média quando essa adquire um imóvel. Hoje, na realidade, a quase totalidade das negociações imobiliárias se dão ou pelo Plano 100 ou pelo Sistema Financeiro da Habitação, ou ainda, pelo Sistema Hipotecário, isto é, pelos programas normalmente apresentados  à Nação para acesso à casa própria, e esse seria o Sistema Financeiro da Habitação que tem regramentos estabelecidos desde o extinto BNH.  Hoje, a Caixa Econômica Federal através de uma série de portarias, oferece  programas para vários projetos; existem também o Plano 100, que é puramente iniciativa privada e o Plano Hipotecário que é uma velha situação que há 50 anos a Nação brasileira vive e que hoje tem sido a forma mais freqüente de utilização de recursos financeiros para a aquisição da habitação.

O que ocorre é que a parte financiada ou pelo Plano 100 ou pelo Sistema Financeiro da Habitação é tributada, em termos de ITBI, em meio por cento, enquanto que aquela parte financiada pelo Sistema Hipotecário tem uma tributação de 3% por parte do município. O que nós diríamos, Sr. Presidente? Que é tão somente necessário que decidamos, entre nós, se é correto convivermos com essa situação de disparidade ou se devemos modificar o procedimento.

Dir-se-á  que o Projeto tem vício de iniciativa e tudo mais. Ora, eu já sou absolvido por antecipação diante desta Casa, porque há conceitos que cabe a nós Vereadores alargarmos essa fronteira tão restrita de iniciativa. E que ao Prefeito, detentor da chancela legal de sancionar ou não, cabe a decisão política de acompanhar aquela proposta concreta que sai da Casa em termos de projeto de lei. Então, não se trata de embretar o Sr. Prefeito Municipal, é simplesmente darmos seqüência a um processo que, em hipótese alguma se realiza de forma unilateral, porque as leis ou começam no Executivo e são aqui complementadas, ou começam a aqui e são complementadas no Executivo.

A sensibilidade do Ver. Fernando Záchia possibilitou que esta matéria iniciasse por aqui, e  tenho a esperança, dado que corrige essa flagrante injustiça, de que não só comece por aqui como tenha a aprovação da Casa e posteriormente a sanção do Prefeito. Era isso. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Adeli Sell está com a palavra, para discutir.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, senhoras e senhores, o Ver. Luiz Fernando Záchia tem o mérito de ter levantado essa discussão neste Projeto e num outro projeto que tramita nesta Casa  e que neste momento está na CEFOR, onde levanta a discussão sobre ITBI, os tributos arrecadados diretamente pela Administração Pública Municipal.

No entanto, acredito que esta Casa deveria ter realizado uma série de debates - tenho  certeza de que irá realizar - sobre a questão da tributação. Quando discutíamos o Orçamento do Município de Porto Alegre para 98 eu alertava para que em 1996, em 1997 e a previsão de 1998 somados à arrecadação direta da Prefeitura, teríamos aí um incremento em torno de 7% na arrecadação, ou seja, um esforço da Administração Pública Municipal de Porto Alegre de arrecadar mais tributos diretamente, com um trabalho efetivo de fiscalização contra a sonegação e, com muita responsabilidade, fazendo obras públicas municipais, e, evidentemente, tendo menos inadimplência.

 Do que trata o Projeto de Lei do Ver. Fernando Záchia? O Vereador diz, na Exposição de Motivos: "as mudanças sofridas pelo Sistema Financeiro de Habitação e mercado imobiliário, demonstrando a redução da participação do primeiro e, conseqüentemente, a importância, hoje, dos financiamentos realizados através de construtoras e incorporadoras." E finaliza dizendo que "em face das mudanças,  o Projeto de Lei visa estender aplicação da alíquota de 0,5 a todo o munícipe que esteja adquirindo um imóvel para residir, independente do tipo de financiamento que o mesmo venha a assumir para este fim."

 Pois bem: não é isso que o Projeto de Lei faz, caro Ver. Fernando Záchia. Essa alteração, possibilitando que a alíquota de 0,5 seja aplicada também para financiamentos diretos, foi feita através da Lei Complementar nº 308 de 28 de dezembro de 1993, que está em vigor. A grande modificação, na verdade, que este Projeto faz, é com relação aos limites de financiamento para enquadramento nessa alíquota, porque a alíquota geral de TBI é de 3%. Na legislação em vigor essa alíquota diferenciada de 0,5 se aplica até o limite de, aproximadamente, 90 mil reais. O que o Vereador propõe é que nos financiamentos até 184 mil reais, ou seja, 200 mil UFIRs, também haja essa diminuição  da alíquota, portanto a aplicação de uma alíquota reduzida.

 

O Sr. Fernando Záchia: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) É oportuno que se esclareça que financiamentos até 90 mil reais não têm a garantia do 0,5%. Só aqueles enquadrados no sistema financeiro. Hoje, se V. Exa. fizer um financiamento de 60 mil reais no Banco Itaú, obrigatoriamente vai ser o hipotecário.

 

O SR. ADELI SELL: O seu Projeto deveria ter feito exatamente isso, alargando, mas não aumentando.

 

O Sr. Fernando Záchia: Mas é isso. Não aumenta. Eu limito, incluo todos os financiamentos do sistema hipotecário, que pode ser de 10, 20, 30 mil reais, não importa. Desde que seja sistema hipotecário, entra na alíquota de 0,5%.

 

O SR. ADELI SELL: Mas V. Exa. traz, na verdade, um aumento para duzentas mil UFIRs.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Limitada.

 

O SR. ADELI SELL: Evidente, até. Portanto pode ter até duzentos mil.  Se V.Exa. tivesse feito um projeto colocando esse adendo para o caso de até noventa mil reais, nós poderíamos discutir, porque são várias as formas de financiamento, entre elas, o Sistema Financeiro de Habitação. Agora. V.Exa. alarga até duzentas mil UFIRs.

 Quem tem este dinheiro para comprar, com esse financiamento, tem condições de pagar os três por cento. Nós precisamos é ampliar para quem tem menos. Na linha de quem tem menos paga menos e quem tem mais paga mais. Essa é a realidade. Nós não podemos alargar para quem têm condições de pagar três. Nós deveríamos ter feito esse alargamento que V.Exa. propõe para outras formas de financiamento, mas mantendo o limite atual da lei em vigor. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Fernando Záchia está com a palavra, para discutir o PLCL nº 008/97.

 

O SR. FERNANCO ZÁCHIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quando eu entrei com este Projeto, em abril de 1997, a intenção deste Vereador era a de que ele fosse objeto de uma ampla discussão em todas as comissões permanentes da Casa, mas fui obrigado a solicitar o artigo 81, da Lei Orgânica, porque já estamos entrando no final do ano legislativo e ainda não tinha parecer da Comissão de Constituição e Justiça. O Projeto ingressou na Comissão de Constituição e Justiça no dia 04 de junho.

O Ver. Cyro Martini, e já foi falado desta tribuna, entendeu, naquele momento, que tinha de ser solicitada uma diligência ao Executivo Municipal para que ele se posicionasse a respeito do Projeto.

A Comissão de Constituição e Justiça tem que se manifestar quanto à legalidade ou não. Se existe vício de origem ou não. Se o Projeto é inorgânico ou não. Esta é a responsabilidade maior da Comissão.  A questão técnica - certamente este projeto iria depois para a CUTHAB  e CEFOR para ser examinado - seria solucionada  e elas poderiam entender que duzentas mil UFIRS  era um valor muito alto, ou entender que meio por cento era um valor muito baixo, enfim, fariam uma discussão técnica.

Mas foi solicitado pela Comissão de Constituição e Justiça  que o Executivo se manifestasse e o Executivo, evidentemente, não se manifestou, ficou aguardando, quando este Vereador veio à tribuna e fez uma solicitação ao Presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Ver. Elói Guimarães, e ao próprio Ver. Cyro Martini, para que solicitasse ao Executivo uma resposta. Veio a resposta - é uma pérola - onde o Executivo diz, claramente, no dia 16 de outubro - foi solicitado dia 10 de junho - que "em atendimento à diligência ‘tal’ entende que o referido projeto é inorgânico e contrário aos interesses do Município". Qualquer pessoa de inteligência mediana sabe que é inorgânico. Tem vício de origem. Qualquer membro da Comissão de Justiça sabe que é desnecessário solicitar ao Executivo Municipal para se manifestar sobre a inorganicidade ou não do projeto.

Então, esta Casa parou e deixou de fazer a discussão técnica que V. Exa. tanto quer - e somo-me a este objetivo -  por seis meses porque a Comissão de Constituição e Justiça, através de um de seus membros, entendeu que deveria consultar o Sr. Prefeito sobre se o Projeto era inorgânico ou não. E deixamos de fazer a discussão correta, técnica do assunto, principalmente na questão dos valores. Se tivesse havido essa discussão técnica, talvez um dos Vereadores envolvidos nesta discussão pudesse ter emendado, achando que o valor de 200 mil UFIRs poderia ser alto, e baixado para 120, 100 mil UFIRs. Temos que trabalhar dentro do mercado.

Hoje, se alguém quiser fazer um financiamento para a aquisição de um único bem, da sua casa própria, não terá acesso ao Sistema Financeiro de Habitação. Terá acesso ao Plano 100, em que em alguns casos o valor financiado é semelhante a isso. Só que o Plano 100 está previsto dentro da alteração na lei feita na Legislatura passada, por iniciativa do Ver. Jocelin Azambuja:  também  no Plano 100 baixa para 0,5%. A única hipótese de financiamento que existe nos bancos privados, porque na Caixa Econômica está há quatro ou cinco anos fechado, é o sistema hipotecário. Então, se V. Exa. quiser comprar uma casa própria no valor de 50 mil reais vai ser financiado pelo sistema hipotecário e V. Exa.  vai pagar 3% sobre o valor desse sistema.

 

O Sr. Adeli Sell: V. Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu queria chamar a atenção para que na Lei Complementar 197, o artigo 16 coloca a questão do financiamento direto, não apenas do Sistema Financeiro de Habitação, com juros de 0,5% sobre o valor financiado e de 3% sobre o valor restante.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Isso é a lei. Veja bem, no Plano 100 só não é financiada a primeira parcela; as 99 restantes são financiadas. Se V. Exa. comprar um apartamento de 100 mil reais, em 100 parcelas de 1 mil reais, 99 mil reais vão ser financiados pelo Plano 100. Já o sistema hipotecário limita em, no máximo, 80% do valor da transação. 

 

O SR. PRESIDENTE: O  Ver. Mário Fraga está inscrito e cede seu tempo a V. Exa.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Agradeço a gentileza do Ver. Mário Fraga. Esta Casa, na Legislatura passada, beneficiou aos adquirentes do Plano 100, que têm a possibilidade de financiar  seus imóveis em 99% e serem beneficiados pela lei. Agora, os que têm sistema hipotecário, no caso da compra de um apartamento no mesmo valor do Plano 100, só poderão financiar 80% do valor. Não serão beneficiados porque estão dentro do sistema hipotecário, porque a lei prevê somente o SFH e o Plano 100. Só que hoje o mercado só trabalha com o Plano 100 e com o sistema hipotecário. Então, todos os adquirentes de casa própria hoje em Porto Alegre que estiverem fora do Plano 100 vão pagar 3%.

Isso pode ser contraditório, mas, na visão deste Vereador não é diminuição de tributo; isso é uma questão de equilíbrio e justiça tributária. Se nós temos uma lei, e as linhas de crédito vigentes não se ajustam a essa lei, me parece que nós temos que ajustá-las à lei. Hoje está no Correio do Povo: "foi aprovado  em primeira Sessão no Congresso Nacional a criação do Sistema Financeiro Único, isto é, vai terminar com o Sistema Financeiro Habitacional e, assim, ficaremos reduzidos apenas ao Plano. Nem  o SFH, se for aprovado no Congresso Nacional, vai estar sendo beneficiado com a alíquota de 0,5%.

     Ver. Adeli Sell, quero deixar bem claro e justificar  por que eu pedi o art. 81: porque o objetivo deste Vereador, e V.Exa. sabia disso, era trazer a discussão para as Comissões pertinentes e para este Plenário. Mas, infelizmente, por uma medida tomada pela Comissão de Justiça, no entendimento deste Vereador  extremamente inócua e não aproveitada, trancou-se um projeto importante por cinco meses, furtando ao resto desta Casa uma discussão mais ampla.

Eu não queria, jamais, que um Projeto como este não passasse pela CEFOR ou pela CUTHAB, mas se este Vereador não pedisse o art. 81, nós estaríamos na certeza de não votarmos esta matéria, independentemente da aprovação ou não, neste ano legislativo.

Insisto,  Srs. Vereadores, na importância da matéria na questão da justiça tributária. Não se está reduzindo, mas, conseqüentemente, hoje, pela medida de mercado, que só tem o sistema hipotecário, está-se diminuindo a receita. Mas na essência da Lei,. se tivéssemos as regras normais de mercado, certamente, que não. Se estivesse operando, dizia bem o Ver. Reginaldo Pujol,  como era a iniciativa do Sistema Financeiro de Habitação, isso, talvez, não teria necessidade. Mas não é justo que uma pessoa queira comprar uma casa própria no valor de R$ 50 mil e tenha que fazer um  empréstimo, deverá fazê-lo, obrigatoriamente, pelo regime hipotecário, a juros de 3%, no Itaú, no Unibanco ou no Bradesco, pois é a única linha de crédito.

 

O Sr. Adeli Sell: V .Exa. permite um aparte? (Assentimento do orador.) Não querendo abusar de V. Exa., mas se eu entendo bem o artigo 16, que diz que temos os financiamentos diretos, além do SFH, acredito que também nos bancos citados por V. Exa.  já essa Lei dá guarida.  

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Não, porque não é direto. O direto é quando é  incorporadora e  construtora, que é o Plano 100, ou seja, financiamentos diretos com mais de cinco anos. Então, quando comprar através de um Plano 100, ou 60 ou  50, que é direto com a incorporadora, a Lei prevê. E quando comprar pelo Sistema Financeiro de Habitação ou por um sistema hipotecário, que são as únicas duas linhas de créditos oficiais   do País,  aí não está previsto, porque não é direto, e sim através de um agente repassador, que vai ser banco privado ou Caixa Econômica Federal, que é um banco oficial e que há muito tempo tradicionalmente trabalhava com sistema hipotecário , mas hoje, por questões financeiras, por questões de mercado, a Caixa fechou a linha de crédito hipotecário.

Então, é essa correção que eu quero fazer. Eu quero deixar a possibilidade de, amanhã ou depois a Caixa abrir, utilizar novamente o sistema hipotecário, mas, principalmente, as condições que se têm de mercado hoje, que é através do agente dos bancos de iniciativa privada, que esses sim só trabalham com sistema hipotecário, para que  aquele adquirente final que comprar o seu imóvel através desses agentes, possa pagar uma alíquota razoável, que é 0,5%, e  ela é razoável, porque é prevista nos outros casos, e não 3%, que é abusivo. Claro que V.Exa. vai imaginar: " Ah, mas quem comprar duzentas mil UFIRs é um valor caro". Mas se eu comprar  cinqüenta mil reais e utilizar o sistema hipotecário? Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação nominal por solicitação do Ver Fernando Záchia.  (Após a chamada.) Por 17 votos SIM; 11 votos NÃO está  APROVADO  o PLCL nº 008/97.

Em votação a Emenda nº 1, aposta ao PLCL  nº 008/97. Os Srs. Vereadores que a aprovam permaneçam sentados.(Pausa.) APROVADA, com os votos contrários dos Vereadores Gerson Almeida, Décio Schauren, Guilherme Barbosa, Maria do Rosário, Antonio Losada e Cyro Martini.

O SR. ANTÔNIO LOSADA (Esclarecimento):  Sr. Presidente, para registrar um fato que ocorreu ontem, pela manhã, com os moradores da Vila Nazaré, com a presença da corporação da Brigada Militar, do Batalhão de Choque, para o despejo de 140 famílias. A Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação se fez presente, através deste Vereador e do Ver. Lauro Hagemann, no sentido de dar uma solidariedade e procurar, de certa forma, resolver, pelo menos, onde colocar o material das casinhas daqueles moradores. É lamentável, foi uma disputa judicial na qual a Prefeitura e a CUTHAB não puderam interferir. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE: Feito o registro do Ver. Antônio Losada, membro da CUTHAB. A Mesa se solidariza com V. Exa. e com o Ver. Lauro Hagemann por terem representado a Câmara nesse momento, cujo rumo, infelizmente, não foi possível ser mudado.

 

VOTAÇÃO

 

PROC. 1587/96    - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 090/96, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt, que estabelece adicional de 10% sobre o valor de avaliação de próprios municipais ocupados por lindeiros, no caso de alienação com dispensa de processo licitatório, e dá outras providências.  

 

Pareceres

- da CCJ. Relator Ver. Juarez Pinheiro: pela rejeição do Projeto;

- da CEFOR. Relator Ver. João Carlos Nedel: pela aprovação do Projeto;

- da CUTHAB. Relator Ver. Paulo Brum: pela aprovação do Projeto.

 

 Observações:

- para aprovação, voto favorável da maioria absoluta dos membros da CMPA - Art. 82, § 1º, VIII, da LOM;

- adiada a votação por duas Sessões.

 

 O SR. PRESIDENTE: Requerimento de pedido de adiamento da votação, por uma Sessão, do  PLL   nº 090/96, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt.

Em votação. Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. 2560/97 -  PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº 037/97, que cria função regida pela Consolidação das Leis do Trabalho, pertencente ao Quadro Celetista em Extinção, no Departamento Municipal de Habitação, e dá outras providências. (Motorista)  

                 

Pareceres

- da CCJ. Relator Ver. Juarez Pinheiro: pela aprovação do Projeto;

- da CEFOR. Relator Ver. João Carlos Nedel: pela aprovação do Projeto;

- da CUTHAB. Relator Ver. Lauro Hagemann: pela aprovação do Projeto.

 

 Observações:

- para aprovação, voto favorável da maioria absoluta dos membros  da CMPA - art. 82, § 1º, III, da LOM.  

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para discutir o PLE nº 37/97.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, vou discutir com muita satisfação porque estou me despedindo deste assunto. Eu acredito que este é o último Processo que vamos discutir porque, daqui para diante, o Prefeito vai decidir por decreto, por portaria, etc. Eu tenho, então, que me despedir disso, porque é uma tarefa a menos que vou ter na Casa, já que os colegas entenderam, na sua maioria, que isso pode ser dispensado e, por lei, nem sei se essa matéria tinha necessidade de estar aqui tramitando.

Os Senhores aprovaram, com o meu voto  contrário, solitário, que essa matéria e situações símiles o Prefeito pode resolver administrativamente criando cargo por decreto. Então, esse Projeto de lei tem que ser aprovado aqui  até com fanfarras, é despedida do Legislativo de Porto Alegre com relação à matéria.

 Vim também discutir o problema do motorista do DEMHAB que foi reintegrado nas suas funções por decisão judicial, conforme análise feita no Projeto pela Comissão de Constituição e Justiça numa situação normal que, analisado pela Câmara, se entendeu de criar um cargo suplementar para que o Município cumprisse com a imposição legal,  decorrência de sentença. Nessas condições e se tratando da derradeira oportunidade que esta Casa tem de discutir matéria com essa significação , eu até aconselharia o meu companheiro de Bancada, Gilberto Batista, que viesse à Tribuna e falasse porque, do contrário, nunca mais falará sobre isso. É a despedida, nunca mais esta Casa falará sobre esse assunto. Abriu mão para o Executivo,  Ver. Isaac, V.Exa. que é tão zeloso por essas coisas do Legislativo e do Município, fale agora; se não, vai calar para sempre, porque, daqui para diante, não tem o que falar. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os encaminhamentos. Em  votação o PLE nº 037/97.  Os Senhores Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO por unanimidade.

Visivelmente não há quórum para apreciarmos os Requerimentos. Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão 12h25min.)

 

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